Sunday, March 14, 2010

Rotina (monólogo)

Seis e cinquenta e oito
Seis e cinquenta e nove… Sete da manhã
Levantar
Casa de banho
Vestir, calçar
Doze passos até à cozinha
Pequeno-almoço
Apanhar o metro, nove estações até ao destino
Autocarro
Próxima Paragem: Mesmo sítio de sempre
Hora de almoço
“Hoje apetece-me almoçar alguma coisa diferente”
Já pediu?
“Era o costume, se faz favor”
Trabalho.
Quarenta e cinco minutos para cada caso
Cada caso é um caso
Mudam as pessoas, os problemas são sempre iguais.
Pausa para café às dezasseis horas.
Garoto. Não muito escuro. Leite fervido. Copo com água.
Se faz favor.
Obrigada. Sê educado
Não grites
Sê cordial. “Olá como está? Muito prazer.”
“Gosto em vê-lo, cumprimentos à família.”
Nove da noite.
“Amorzinho, o jantar está óptimo!’’
Mastiga com a boca fechada
Sala.
“Como foi o teu dia?”
“Foi bom e o teu?”
Quarto.
Alarme para as sete da manhã.
Aproximação. “Hoje não”
Não insistas.
Não critiques.
Não digas palavrões
Merda.
“Dorme bem”.
“Tu também”.

Saturday, August 29, 2009

Só dói quando dói

O amor só dói quando dói.E é quase pecado pensar que ele pode vir a doer. De cada vez que nos aparece pela frente, deixamos tudo para trás, com a desculpa de que ''desta vez é a sério''. Planeamos, escondidos atrás das lições das aprendizagens dolorosas que fizemos de relações passadas, sem nos lembrarmos que essas também foram ''a sério'', até deixarem de o ser. Partimos, numa nova aventura, incapazes de nos prevenirmos, até porque isso seria o mesmo que admitir que alguma coisa pudesse correr mal! E damos tudo. E quando a coisa corre mal, acabamos por descobrir que ficámos sem nada para dar a nós mesmos. É aí que o amor começa a doer. Os velhos sentimentos que julgávamos longe estão mesmo ali, dentro de nós: Estamos mais sozinhos do que julgávamos. E isso magoa.Quantas vezes -esta vez, outra vez – fomos avisados de que alguma coisa podia correr mal? E do alto do nosso pedestal, afirmámos com toda a certeza que NADA ia correr mal, porque este amor ‘’é verdadeiro e para sempre’’. Que parvoíce, pensarmos que somos especiais, a ponto de sentirmos um tipo de amor que mais ninguém sentiu! Somos todos iguais, lá do alto do nosso pedestal somos tudo: E quando caímos, é aí que o amor começa a doer. Somos todos iguais, iguaizinhos. A história ao longo dos tempos é sempre a mesma, só mudam as personagens, os cenários e os figurinos. É como pegarmos numa história de amor (daquelas que as mulheres adoram) e repetirmo-la vezes e vezes sem conta. Um exemplo? Dois: ''Romeu e Julieta'': O amor proibido que acaba em desgraça; ''Titanic'': O amor e a luta de classes. O que tem estas histórias em comum? Eles amam-se, é para sempre, o universo conspira e manda-os à fava. E nós adoramos!Como podemos nós mulheres querer realmente ser felizes, se tudo o que queremos é viver um romance de filme? Toda a gente sabe que isso acaba em lágrimas, o que é óptimo para se ver no cinema com pipocas e um ''amor para sempre'' ao lado. O desafio é deixar o filme para os actores a sério e viver uma história de amor com um final feliz, em vez de passar a vida a coleccionar momentos felizes de histórias de amor que acabaram demasiado cedo. O amor só dói quando dói. Mas não amar dói sempre mais.

Monday, May 14, 2007

Borboleta..

Há um tempo atrás, alguém me disse (num daqueles questionários infantis cheios de elogios exagerados, que ajudam imenso quando nos sentimos em baixo) que eu ''era'' uma borboleta, porque ''nem a pior tempestade te apaga a cor das asas!!'' Ironia do destino, agarrei-me a esta ideia precisamente quando essa pessoa me magoou, e dia-a-dia fui ficando mais forte. De tal forma que ganhei coragem para pôr um ponto final em tudo o que me fazia sofrer.. E sabem que mais? A tempestade veio, e passou. Às vezes basta uma frase num e-mail para mudar a nossa vida, para nos dar ''aquele empurrãozinho'', que suplicamos num grito surdo, tao baixinho que mais parece um sussurro da alma... Ainda bem que alguem ouviu o meu! Hoje em dia vejo em mim a tal borboleta que na altura achei tão frágil, tão susceptível, e que afinal resistiu à tempestade com todas as suas cores, que hoje mostra orgulhosa...

Parei para pensar..

Já alguma vez vos aconteceu pararem de repente, abrirem os olhos e sentirem-se perdidos? A mim já. Não sei quem sou, nem como cheguei até aqui. Não sei o que faço por cá, nem com que propósito me trouxeram ao Mundo.. Deve ter sido para alguma coisa! Lembro-me do passado.. Tinha bem a certeza de quem era e do que devia fazer para chegar exactamente onde queria.. Tretas! Ninguém conhece o seu destino até lá ter chegado! Nascemos e crescemos, com a certeza de que ''essas coisas só acontecem aos outros''.. E depois, acontecem-nos a nós. Um dia paramos de repente e olhamos à nossa volta.. Olhamos para nós, não somos absolutamente NADA daquilo que pensámos um dia vir a ser. Olhamos para as pessoas ao nosso lado, umas de quem nunca pensámos vir a ser amigas, e que nesse momento nos dizem mais que muito.. Por outro lado, vemos pessoas que pareciam ser daquelas ''para sempre'', passarem por nós e até fingirem não nos conhecer de lado nenhum. Olhamos para os antigos namorados, aqueles que eram ''para a vida'', e para os novos, que nunca pensámos amar..E aí pensamos.. ''Será que sou feliz?'' É claro que aos outros dizemos sempre que sim! Mas.. Será que conseguimos admitir isso para dentro de nós? Façam a vocês mesmos esta simples pergunta: ''Será que a minha vida é exactamente aquilo que eu que sempre quis?''
Claro que nao. E porquê?
Porque sim, porque a vida nunca é exactamente aquilo que qeríamos que ela fosse.. Porque ''uma vida sem obstáculos perdia a piada.''
Porque no fundo, somos todos iguais por dentro, mesmo que queiramos mostrar-nos mais fortes que os outros por fora! Passamos uma vida inteira a tentar descobrir as ''fraquezas'' dos outros, em vez de nos preocuparmos com as nossas próprias fraquezas.. E porquê?
Tantos porquês..
Ninguém sabe! Um ou outro, mais ''entendido'', irá justificar os nossos comportamentos inexplicáveis com a ''natureza humana''. Sempre a natureza humana!!
Se assim for, para mim somos todos tao humanos como de outro planeta! Uns mais que outros, é certo..

Thursday, May 3, 2007

A Humanidade.. Eternamente Insatisfeita!

A permanente insatisfação do Homem levou-o a procurar novos horizontes, a fazer viagens, a conhecer novas culturas e a superar todos os limites, e ainda assim, nunca achar suficiente o já vasto império do seu conhecimento. Há que ir descobrindo mais e mais, pouco a pouco, sempre com novas metas e novas ambições! Para o Homem, o importante é chegar onde ninguém chegou, mesmo sem pensar que tem todo o tempo do mundo para la chegar, porque, partindo do princípio que estamos 'sós' no vasto Universo, ninguém lá chegará antes. Mas o Homem é mesmo assim, sempre ávido de tudo, com pressa de chegar a todo o lado, e fazer tudo ao mesmo tempo..
Hoje em dia, graças à internet, é possível fazer compras de supermercado, ir ao trabalho, às compras e até marcar viagens, tudo ao mesmo tempo! Mas ainda assim, o Homem quer mais.. Caminhamos para uma nova era, em que as relações humanas se deterioram cada vez mais, em que o convívio é cada vez mais virtual, bem como a vida. E o Homem vai querendo sempre mais e mais, até ao ponto em que já nada seja de verdade, em que o mundo inteiro viva espalhado pelo imenso Universo e até as amizades e relações familiares sejam meramente virtuais, que é o mesmo que dizer platónicas, dando um novo significado à palavra, já que as verdadeiras relações platónicas também deixarão de existir..
Um sorriso, o choro, até um simples piscar de olho não passarão de bonequinhos desenhados nos ecrãs dos computadores, demonstrando, assim, um sentimento que deveria ser visto e reconhecido nas pessoas, para as pessoas.. 'Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...' Já dizia alguém que pertence ao 'antigamente'. Mas nem Camões pensava que iria estar tão actual o significado das suas palavras, cada vez mais e mais, porque o Homem quer sempre mais. E não vai parar por aqui, pelo menos enquanto 'mudarem os tempos', porque as vontades, essas, não mudam. A vontade é a mesma, é constante, é a de mudar tudo e todos, para chegar primeiro, e onde nunca ninguém chegou..